Procurador de Justiça do MPPR aponta em artigo propostas para a melhoria do transporte público em Curitiba 23/03/2023 - 16:47

Tarifa de ônibus, transparência, sustentabilidade, smart cities

Saint-Clair Honorato Santos, procurador de Justiça do Ministério Público do Paraná

 

Está sendo apresentada na cidade uma discussão sobre a tarifa do transporte público, sempre apontando que Curitiba é modelo no transporte de passageiros.

Acontece que este modelo já existiu em muitos lugares onde se tem os trens de superfície, bonde, metro, monorail, metrô elevado.

Há que se pensar que Curitiba instalou um modelo que foi interessante num primeiro momento, ao se colocarem as canaletas exclusivas houve uma melhoria no sistema, num determinado momento, mas o modelo também se satura, passando-se, então, para outras intervenções complementares como o ligeirinho, interbairros, já não mais em canaletas exclusivas.

De se ressaltar que ao serem adotadas as canaletas exclusivas as velocidades dos ônibus expressos têm que ser bem controladas, e deveria ser em tempo real e a disposição da própria população, para que se pudesse observar esta velocidade permanentemente até como meio de se fiscalizar, tendo em vista que se nota que acidentes são cometidos na canaleta. Houve alguma discussão sobre a aplicação de multa por excesso de velocidade dos ônibus nas canaletas, embora anotadas nos radares não se logrou buscar as imagens e fazer a devida sanção aos transgressores. Não é porque temos as canaletas exclusivas que são utilizadas, inclusive, por outros veículos preferenciais, que não há que serem observadas as regras de trânsito.

Em se dando nomes específicos como ônibus expresso, ligeirinho significa fazer também com que essa nomenclatura impulsione o próprio motorista para que as vezes cometa infrações de trânsito.

Mas se dizer que Curitiba, à época com 700 mil habitantes, é um modelo único e que se espalhou pelo mundo é um pouco exagerado já que copiamos um modelo existente em outros países adaptando-o para nossa realidade melhorando nosso sistema, como não poderia ser diferente.

Para uma melhor análise sobre o sistema tarifário uma de suas premissas é a transparência, aliás determinada em lei, portanto, a planilha de custos deve estar disponível a todos os cidadãos para que possam consultá-la, avaliá-la e contradizê-la, se assim o desejarem.

Muito há que se fazer para alcançarmos a nova denominação de cidades inteligentes, ou smart cities, e para se aperfeiçoar o modelo é o caso, por exemplo:

a) de se retirar/diminuir a poluição do centro praticada pelos ônibus, eletrificando-os;

b) minimizar custos significa implantar também material rodante sobre trilhos em Curitiba, e isso é já feito no nosso país, há muito tempo, e é praticado no próprio exterior, tem-se em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, no Mato Grosso que empacou com problemas na licitação, que era fazer efetivamente sobre trilhos e obviamente esse tipo de material rodante tem uma maior durabilidade, lembrando que esta Capital já teve bondes que chegaram percorrer os bairros mais distante do centro, e hoje, notadamente, implica em uma tarifa mais interessante para população.

O metrô parte do centro da cidade, no subsolo, e assim o é, e não se afirmar que a existência de rios são problemas já que essas construções são subterrâneas e abaixo dos rios, caso contrário não teríamos metrô em São Paulo, Paris, Londres, Moscou, já que depois se torna de superfície para se atingir distâncias mais longas, como a região metropolitana, barateando seus custos, influenciando na tarifa.

Lembrando que em Curitiba se discute, com grande veemência, a retirada dos trilhos existentes da antiga ferrovia que cruza a cidade; que dizer de São Paulo e Rio de Janeiro e outros países que utilizam esses trilhos para a melhoria da malha urbana de circulação de pessoas?

Para se falar em smart city estes modelos já poderiam ter sido aperfeiçoados em Curitiba, com a eletrificação do sistema, metrô, metrô de superfície, monorail, e alguns desses modelos já existem em São Paulo há muitos anos e poder-se-ia ter sido feito na canaleta há muito tempo reduzindo o ruído na cidade, reduzindo a poluição, diminuindo-se as despesas em relação ao modelo de motor, diesel, poluição, pneu e desgaste desses equipamentos.

Na década de 90 tivemos em Curitiba um seminário em que a Suécia apresentava o ônibus a álcool exatamente para diminuir a poluição e diminuir os casos de assistência à saúde nos serviços daquela cidade; esta conta também não é feita aqui em Curitiba nas zonas que sofrem com toda poluição com um volume grande de outros veículos que se somam com os próprios ônibus, como se discute permanentemente em São Paulo, sofrendo o sul, em especial, com a inversão térmica.

O metro de superfície, ou até monorail, poderia vir pela Avenida das Torres do aeroporto passando por São José dos Pinhais com 3 ou 4 paradas direto para rodoferroviária ou até o círculo militar ou pela Marechal Floriano indo até a praça Tiradentes já que temos também o modelo de canaleta naquela via, diminuindo-se os custos de implantação e melhorando-se os custos do sistema.

Os metrôs ao longo do trajeto, vão se transformar em trens urbanos ou suburbanos como é o caso de São Paulo e Rio de Janeiro ou de outros países, em cidades como Londres, Paris onde o metro depois se transforma em trem de superfície indo em alguns casos, até o aeroporto, ou zonas mais longínquas distantes da metrópole.

Como exemplo de busca de eficiência, em algumas cidades dos países da Europa o horário do ônibus está em um letreiro dizendo qual é o ônibus que vai chegar, e em quantos minutos chegará e qual será o seguinte na sequência que virá, portanto, temos muito ainda que aprender com os países mais desenvolvidos.

Aprender e praticar, o que não temos feito.